Friday, June 06, 2008

Estava pensando nesses dias sobre os encontros e despedidas dessa vida. Um amigo de família que faleceu e deixou para trás 46 anos de um casamento feliz. Enquanto isso, conheço pessoas que se queixam da falta de homens e mulheres no "mercado". E quando digo falta, essas pessoas falam em cara metade, em alguém para casar e compartilhar a história de uma vida.

O problema é que ninguém admite públicamente que procuram um amor ou então esperam encontrar alguém pronto, feito e com a vida feita. Me lembrei da época em que as "baladas" aconteciam nas garagens do bairro e reuniam dezenas de pessoas que aguardavam ansiosamente a seleção de lentas. Bom partido tinha de ser pé de valsa, falar macio e ter muito charme.

Quantos namoros e até mesmo casamentos surgiram dessas danças à dois!

Hoje em dia está cada vez mais raro o pé de valsa; o falar macio é coisa suspeita e o charmoso é, apesar de lindinho, taxado de de gay. (e deixo bem claro que a conotação aqui não preconceituosa, apenas o que se ouve por aí porque, afinal, o gay não se interessaria pela hetero a não ser para amizade).

E pensando sobre o assunto, nas andanças e leituras afins, deparei-me com um texto atribuído a Arnaldo Jabour que traduz o que pensei em escrever (agora, se o texto não for dele, parabéns à quem o escreveu!). Eis o dito cujo:


Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão”. Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos. Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos “personal dance”, incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvída?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão“apenas” dormir abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.

Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a “sentir”, só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.
Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: “Quero um amor pra vida toda!”, “Eu sou pra casar!” até a desesperançada “Nasci pra ser sozinho!” unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.
Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.

Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, demodé, brega.
Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, “pague mico”, saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: “vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida”.

Antes idiota que infeliz !
Arnaldo Jabour


E aqui, retomo meu pensamento e concluo:
Que saudade dos meus bailinhos de garagem, das seleções de lentas, dos programas de amor nas rádios (Love Songs, Old Times e por aí vai), dos locutores que eram comunicadores (categoria que felizmente fiz parte e história) e não apenas anunciadores de hora certa. Bons tempos de "idiotice"...

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